DIREITO POR LINHAS TORTAS
– “És ímpar, minha filha. – afirmou a mãe, sem esconder algum orgulho.
Matilde deixou-se abraçar demoradamente, como há muito tempo não fazia. A sua vulnerabilidade deu-lhe direito a muitas festas no cabelo e a palavras carinhosas, cheias de pepitas de esperança.
Matilde é uma daquelas pessoas que larga o certo pelo incerto, para tentar salvar a pureza das coisas. Não negoceia o seu valor, mas vacila, como toda a gente, perante o vazio da perda.
– Fica tranquila – assegurou a mãe. – Só vejo bênçãos à tua espera. Nunca lamentes fazer o que está certo.
Matilde fechou os olhos e, exatamente ali, no peito quentinho maternal, adormeceu.” Excerto de um pequeno conto
É preciso ter coragem para ir ao fundo das questões. A busca de vivências inteiras é uma espécie de travessia no deserto, onde só a sabedoria permite povoá-la de esperança.
Quando se atinge um certo grau de consciência, a responsabilidade é maior. Já não é possível seguir o caminho mais fácil, ainda que este nos poupasse a muitos medos e incertezas.
Fazer o que está certo corresponde, muitas vezes, a mergulhar na solidão e confiar na mão generosa do universo.
Fazer o que está certo implica, frequentemente, deixar ir o controlo, em prol de um prazer maior, num futuro mais belo e promissor. É ter a coragem de caminhar sozinho, por linhas tortas, sem se perder o fio condutor das profundas convicções. É dar espaço e libertar alguém, por amor.
Fazer o que está certo é a forma mais rápida de se chegar onde se precisa de chegar.
14 dez, 2019