A PRIMEIRA CARTA

África. 7 de Dezembro de 2018.

“Querido Pássaro,

Os teus dias são o poema mais lindo deste mundo.

Depois daquele dia em Dezembro, os nossos sonhos ficaram de mãos dadas no céu. Sabias?

És tu o meu Dezembro, o meu Fevereiro também, mágico Valentim. És agora os meus dias passados a desfiar pássaros no cabelo, ao mínimo esvoaçar do pensamento. Não só pensamento. Agora já tenho o arrepio dos teus voos na pele, que se fartam de me acordar a toda a hora.

Fazes-me feliz só de te pensar. Já para não falar dessa paixão que vem de ti e se mistura com a minha e que dá a história mais bonita que existe no Reino das princesas africanas há muito desenraizadas.

Quero-te assim, de cabelos revoltos, misturados com os meus dedos, nuca disponível para o meu desejo, e muita pele generosa, qual terra firme e acolhedora dos meus sonhos e segredos. E quero ser eu a limpar-te as lágrimas.

Tens o condão de me tornar generosa. Apetece-me dar-te-me, dar-te-me, dar-te-me.

Quero passear contigo numa destas manhãs, antes de nos perdermos um do outro por entre festejos, afazeres e afins. Se não for possível, quero amanhã olhar para ti para que vejas como te trago nos olhos. Mar de violetas e um pestanejar que soará sempre como o bater de asas de pássaros em dias felizes.

Espero por ti”.