BANG BANG

Há quem me chame de “terapeuta do amor”. Não tomo isso como um elogio, apenas um facto, porque tudo se trata de amor e da falta dele. A terapia é uma oportunidade para tecer de novo velhos laços e, de certa forma, aprender a amar melhor. Os meus textos são apenas pedaços de histórias, refletindo o variado espectro emocional de que são feitas. Bang Bang é um denominador comum a muitas vidas.

 

BANG BANG

Tu e eu sonhámos tudo ao pormenor. Amámos como num sonho, como só uma criança sabe amar. O fim, quando ou se viesse, viria certamente debruado a versos, no puro desalinho da paixão.

Uma distração imperdoável no percurso, um estrondo no chão, um rasgão no peito, Bang Bang, you shot me down.

Não podia ser verdade. Nos meus olhos apenas névoas, no horizonte o esfumar repentino de cada manhã, relâmpago num inocente fim de tarde, Bang Bang, arranque a sangue frio das últimas páginas da história, you shot me down.

Pele suave, seiva doce de sobreiro forte, fino, vulnerável, descascado até à morte. Corpo inerte ainda quente, mel e sangue na minha boca, e um ponto de luz fosca na imensidão do céu.

Como é grande a pequenez da minha impotência! Um olhar cego e estático no meio do infinito, à espera do tempo que tudo esclarece.

Bang Bang, you shot me down.