Ó AR QUE ME RESPIRAS!

Mais do que nunca, é preciso sair do medo paralisante, expandir o coração e a mente e criar novas soluções.

Numa era em que se vive virtualmente, ignorando a preciosidade da relação direta com o outro, não deixa de ser irónico termos agora que aprender a usar, com sabedoria, os recursos virtuais, para não padecermos de isolamento mórbido. Pelos vistos, é preciso perder, para dar valor. É preciso depararmo-nos com a nossa máxima fragilidade, com a iminência de podermos morrer asfixiados, para escutarmos finalmente os gemidos do planeta maltratado.

A vida é mesmo irónica. Há anos que assistimos ao flagelo dos incêndios que vêm progressivamente matando o pulmão do planeta. Agora, somos nós que vemos ameaçados os nossos próprios pulmões.

O paradoxo da vida chega a ser de uma criatividade magistral!

Tanto nos temos afastado afetivamente uns dos outros que agora nos vemos obrigados a fugir uns dos outros, chorando as penas de não estarmos juntos. E é isso que nos vai salvar a todos. Vamos sentir falta uns dos outros e, sobretudo, precisar uns dos outros, para podermos sobreviver como espécie. Sim, porque o planeta conseguirá, pela sua inteligência misteriosa, resistir e reinventar-se. Já nós, se não mudarmos comportamentos e não nos sintonizarmos com o coração, podemos bem, um destes dias, ser dispensados do paraíso, mas não por causa do coronavírus, e sim, por causa do nosso particular talento para destruir o nosso próprio sistema imunitário.

Eu pergunto se estamos conscientes dos milhões de crianças que morrem à fome diariamente, dos números diários de mortes por AVC e cancro, malária, suicídio e muitas outras virulências. O número de mortes que ocorreram no mundo até agora, por coronavírus, é ínfimo em relação a tudo isso. Não sou eu que digo, são os números.

Eu pergunto também se já parámos para pensar que o consumo de tabaco, álcool, acúcar, farinhas e outros produtos refinados, produtos processados, refrigerantes, etc., estão na base da destruição do sistema imunitário?!

E por que é que achamos nós que os venenos que se usam na agricultura só matam os bichos e a nós não acontece nada?!! Como é que não percebemos que o nosso corpo está a ser envenenado?! Tanta omnipotência e dissociação na espécie supostamente mais evoluída do planeta!!!

Pergunto também se não acham estranho que, com tanta informação à solta, ainda não se saiba que viver em stress diário, horas a fio, dentro de empresas e escritórios, como se não houvesse amanhã, família e filhos, nos vai destruindo a alegria, os vínculos e a saúde?! Convido todos a lermos, diariamente, um capítulo sobre psicossomática e psiconeuroimunologia.

Há quem não durma ou durma pouco. Não sabemos todos que as noites foram feitas para dormir e regenerar? Os médicos mandam-nos descansar e dormir cedo, quando tempos alguma doença. Por que será? Qual é a parte que ainda não percebemos? Não será melhor prevenir a doença?

Sempre gostei de árvores, mato, terra, água dos rios e do mar, e sempre chorei ao vê-los sofrer. Venho de uma terra maltratada, abusada, pela sua enorme beleza e riqueza natural, por governos gananciosos e mal formados, até ao desaparecimento total dos animais que viviam felizes na savana.

É por causa destas e de muitas outras atitudes virulentas que o Homem tem vindo a tornar o ar irrespirável! É possível que esta pandemia seja apenas uma estratégia do Universo para que a poeira que tem andado escondida debaixo dos nossos tapetes venha a lume, para ser finalmente limpa, varrida e integrada. Não tenho dúvidas de que entrámos na era do coletivo, da solidariedade, da compaixão, da inteligência emocional. Os valores têm inevitavelmente que mudar!

Já parámos para pensar no que significa respirar?

Inspirar. Expirar. Quando se respira, cria-se espaço dentro do corpo, põe-se em marcha a circulação sanguínea e é assim que o organismo se alimenta e funciona. E leva tempo. Respirar bem é ter espaço e ter tempo. Para criar espaço é preciso ter raiva suficiente para dar o grito de liberdade. Esta vida agitada de fazer, fazer, fazer, trabalhar horas a fio, dormir pouco para não perder o negócio de milhões ou para aproveitar os minutos todos para recolher mais informação, e comer mal, sem critério, é basicamente viver para consumir os recursos pessoais e energéticos, até à sua extinção. Ou seja, é sobreviver.

Esta pandemia veio dizer-nos que agora precisamos de aprender a viver!

Curiosamente, a humanidade tem priorizado o dinheiro e o consumo, com base no medo da escassez. Agora, é possível que venhamos todos a consumir menos e a ganhar menos dinheiro, mas com mais abundância. A vida é mesmo uma abundância e é com este pensamento que o pão se multiplica.

O amor e a solidariedade fazem bem ao sistema imunitário, são poderosos antivirais e transformam a escassez em prosperidade. É preciso não esquecer isto!

A maior tristeza é a falta de amor, de coerência e de prazer de viver. Falta de amor é a perda de contacto com as leis da natureza, é falta de centro, de inteligência canalizada na manutenção da nossa integridade!

Mais do que nunca, é preciso movimento. Não estancar. Mexer o corpo, soltar, respirar, fortalecer os músculos, a mente e o espírito, e desfazermo-nos de objetos, atitudes e crenças autolimitantes.

Já há informação suficiente. Falta agora integrar o conhecimento e criar novas estruturas que sirvam as necessidades da humanidade.

Falta integrar o corpo, a mente, o coração e o espírito! Isso sim, é um raio laser de sabedoria e eficácia!

17 de março, 2020