RETROSPETIVA

 

Soube-me sempre bem entrar num novo ano, por causa da curiosidade.

Como se uma linha invisível me separasse dos sonhos mais caros da minha alma.

Foi sempre assim, desde que me entendo por gente.

Este ano, é diferente!

A curiosidade é sobre uma ponte.

A ponte que me leva a todos os lugares recônditos dentro de mim, e perceber se algo precioso me escapou.

Quero tecer meticulosamente os laços que unem as minhas existências, dando-lhes o devido destaque, enquanto 2023 me espera ali, paciente e promissor.

Desta vez, quero entrar devagarinho, para ver o passado em perspetiva a dar lugar a todos os caminhos que escolhi. Há vírgulas muito importantes.

Não vá ter-me escapado alguma pelo caminho, tal a pressa e o entusiasmo!

Uma vírgula, ou a falta dela, pode fazer a diferença de uma vida.

Pode bastar dizer adeus, com um poema bonito, ou simplesmente cobrir uma memória com um manto de flores, e deixá-la perfumar os caminhos da minha história. Pode bastar ler melhor a experiência, para captar a primeira sensação – a verdadeira, e vir embora para o ano novo, sem a dúvida que atrapalha os passos. Pode simplesmente bastar regressar àquela curva onde tudo aconteceu e, desta vez, apanhar a boleia à hora certa, no sítio certo. Ou ouvir melhor o eco de palavras sábias que, entretanto, na azáfama dos anos, se perderam.

Este ano é diferente!

A curiosidade é sobre uma ponte, sobre as vírgulas e sobre o tempo justo das coisas.

               31 dez 2022